No primeiro livro das Crônicas
dos Reis de Israel no capítulo 21, há o relato de um momento peculiar na vida
do Rei Davi. Sem ter sido orientado por Deus e sim por sua própria vaidade, o
monarca decide realizar uma contagem do povo. Mesmo com a discordância de
alguns de seus súditos mais próximos o rei vai adiante em sua empreitada e
assim que Joabe lhe traz os números, pelos quais tanto ansiou a ponto de sair
do campo da dependência de Deus, veio a repreensão através do profeta Gade.
Aqui já podermos absorver uma lição importante: As vezes mesmo tendo o controle
absoluto de tudo, Deus nos permite andar segundo o caminho do nosso coração até
alcançarmos o castigo. "o
teu caminho e as tuas obras te trouxeram estas coisas" Jeremias
4:18, Romanos 2:5). Que nosso corações estejam em sintonia com o coração de
Deus em todo tempo. Continuando nossas considerações vemos que o Eterno dá ao rei a possibilidade de escolher
entre três castigos: Três anos de fome, Três meses fugindo sendo consumido
diante dos inimigos e sucumbindo por suas espadas ou três dias sob a espada do
Senhor. Davi responde de forma enigmática e aparentemente não muito clara sobre
as três opções recebidas, mas com sabedoria ele diz: Caia eu nas mãos do Senhor
pois muitas são as suas misericórdias, mas que eu não caia nas mãos dos homens.
O resultado disso é que 70 mil pessoas morreram em Israel até que o anjo do
Senhor chegou sobre Jerusalém e Deus então o manda parar dizendo: Basta, retira
a tua mão. O texto sagrado nos conta que Davi teve a aterradora visão, em claro,
do anjo do Senhor parado sobre a eira de Ornã, com a espada desembainhada e mão
estendida, aguardando apenas mais uma ordem de Deus, e por conta disso se
angustia e se humilha se vestindo de pano de saco e reconhece diante de Deus
que o povo não merecia sofrer por conta do seu próprio erro. Neste instante
algo glorioso acontece, a bíblia nos mostra o anjo do Senhor dando uma orientação de como resolver a situação
e impedir que o castigo prevalecesse. Consideremos alguns pontos:
1 - O anjo não falou diretamente à
Davi mas ao profeta Gade. A bíblia diz que Deus não fará nada sem antes
revelar o seu segredo aos seus
servos os profetas (Amós 3:7): Aqui vemos a importância que o próprio Deus dá à
suas instituições, Davi via o anjo,
mas a palavra de orientação não chegou
até ele sem antes passar pelo profeta de Deus. O que colhemos ou deixamos
de colher tem diretamente tudo a ver com a maneira com que olhamos para os
ministros de Deus e a consideração que lhes manifestamos dando ou não crédito à
palavra de Deus em sua boca. "Que os homens nos considerem como ministros
de Cristo", já dizia Paulo aos Coríntios em sua primeira carta no
capitulo 4:1. Davi tinha algo a fazer, mas a orientação viria pela boca do profeta. E no seu primeiro
passo de fé rumo à sua benção tudo que Davi precisava era ouvir a Palavra de Deus na voz do ungido do Senhor.
2 - Subir (ialah) - "aparecer" -
Considerando que a bíblia diz em Isaias 59:2 que nossas transgressões causam divisão entre nós e o nosso Deus, e que
nossos pecados encobrem o seu rosto de nós, para que não nos ouça, o
profeta ao dizer a Davi para "subir" estava dizendo: apareça diante
de Deus, saia de traz do seu pecado, o qual lhe encobre diante do rosto de
Deus, apresente-se, afinal ainda que contrito e arrependido Davi não poderia
permanecer na obscuridade. O pecado se alimenta da obscuridade, era necessário
que o monarca "subisse", ou seja, aparecesse diante de Deus
completamente, sem nenhuma reserva. O ofertar é uma dádiva gloriosa, mas não é
coisa comum e desprovida de ordem como muita gente pensa.
3 - Levantar um altar. - Não era simplesmente chegar e ofertar, antes
tinha que preparar todo o ambiente do milagre, e a ordem era levantar um altar ao Senhor. Construir um lugar onde
apresentar a oferta, organizar o sacrifício. O homem ao sair da obscuridade do
seu pecado e apresentar-se diante de Deus, começa paulatinamente a construir um
altar em si próprio, onde apresentará a si próprio através de seu corpo como
sacrifício vivo, santo e agradável, sendo esse então o seu culto racional, ou
com inteligência. Aliás, diga-se de passagem, só por considerarmos a palavra
racional em romanos 12:1, que no original é lógikos, "que pertence à
razão, lógico, que segue a razão" , temos que concluir que um
culto desprovido de lógica espiritual e teológica jamais será um culto
realmente inteligente, e portanto, não será aceitável diante de Deus. Temos que
antes ouvir, depois subir e então levantar o altar e só depois sacrificar.
4 - Na eira de Ornã o Jebuseu. Deus tem uma razão específica em tudo que
faz, Deus tem um segredo, o qual
será revelado no tempo, no local e na maneira correta. O anjo havia parado sob
a ordem divina justamente sobre a eira, um campo de chão batido, que
normalmente era usado para a debulha ou padeja dos cereais, ou seja, local onde
os cereais eram lançados para cima com uma pá ou peneira, e por conta do vento
a palha seria soprada para longe enquanto os grãos cairiam de volta no
recipiente original, mas agora sem nenhuma palha. Davi estava sendo padejado, a
palha da arrogância e ostentação que o fizeram contar o povo sem a ordem de
Deus estava finalmente sendo soprada para longe, dando lugar ao velho adorador
de coração segundo o coração de Deus. Mas o segredo principal é que futuramente
neste mesmo local seria construído por Salomão o famoso templo do Deus de
Israel, uma das maravilhas da antiguidade e até hoje uma das grandes maravilhas
históricas de todos os tempos. Esse campo vazio e cheio de palha espalhada em
que somos convocados a construir o caminho do sacrifício perfeito ao Senhor
nosso Deus, local em que estamos ainda em contato com as dores das percas e
fracassos, e sob a visão aterradora de iminente destruição (o anjo estava com a
espada desembainhada), Ornã e seus quatro filhos ao verem o anjo se esconderam,
Davi também não deveria estar se sentindo muito a vontade principalmente
sabendo a razão pela qual o anjo estava ali (21:30) mas, no lugar onde Deus tem
um segredo, vale a pena permanecer!
5 - Dá-me esse lugar da eira, da-me por seu valor! Ao solicitar a compra do
local, Ornã imediatamente oferece ao Rei a possibilidade de posse gratuita de
sua propriedade, contudo, Davi sabendo da importância do que estava acontecendo
ali naquele momento, ainda que não soubesse de todo o segredo de Deus com aquele
local para o futuro, pronuncia as seguintes palavras: "não tomarei o que é teu para o Senhor, para que não ofereça
holocausto sem custo". No ato
do ofertar quando não há custo não há a necessidade da fé, e sem fé é
impossível agradar a Deus! (Hb11:6) A fé nos leva a dizer não a nós mesmos para
dizer sim para a vontade divina, e não é justamente esse o significado de negar
a si mesmo? Lembremo-nos do que Jesus disse: "quem quiser vir após mim negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me". (Mateus 16:24). Para o exercício da fé, no campo da
semeadura sempre haverá o custo da renúncia de si mesmo, no mais absoluto
sentido da expressão, além de conceitos e paradigmas.
6 - Davi edificou e sacrificou - Logo após fechar o negócio por 600
ciclos de ouro, Davi cumpre na integra a orientação divina manifesta a ele pelo
profeta; constrói o altar e depois oferece sobre ele holocaustos e sacrifícios pacíficos e invoca ao Senhor.
7 - E o senhor ordenou ao anjo e ele meteu a sua
espada na bainha. Até
então havia a iminência do reinício da mortandade, mas após o ofertar, após
entregar a Deus um sacrifício de fé e fidelidade, o anjo não tem outra coisa a
fazer senão guardar a espada na bainha em obediência à ordem do Todo Poderoso.
O castigo cessou, não há mais "palha no trigo", o homem foi
aperfeiçoado sob o plano divino que foi desenvolvido e cumprido item a item,
agora sim depois do aprendizado e do ato racional do ofertar, Davi estava
pronto a ser removido do tempo de castigo e dores atrozes para:
a - um tempo de nova visão (construção do templo
para adoração)
b - para o trabalho em favor de sua visão
(começou os preparativos para a construção) I Cronicas22. Visão implica em
ação, afinal ter uma visão e não ter iniciativa é simplesmente não ter nada.