Um
dos efeitos do sono sobre o corpo é a cataplexia, que consiste na paralisação
dos músculos do corpo durante a fase REM (rapid eyes moviment), fase esta em
que ocorrem os sonhos mais vívidos. A ciência acredita que esse seja um
mecanismo de defesa do corpo para evitar que a pessoa reaja fisicamente durante
o sono em razão dos sonhos que esteja vivenciando. Uma reação física por conta
de um sonho pode causar lesões uma vez que a pessoa não tem domínio da
realidade por estar envolvida em
absoluto torpor por conta do estado de latência. Quando criamos um paralelo da
realidade físico biológica com a espiritual notamos que crentes que estão
sob efeito do sono estão também com a
musculatura espiritual paralisada, pois não produzem, não reagem, não obedecem,
não perdoam, não se humilham, não se santificam, não buscam a Deus, não são
prudentes e por ai vai. Aqui surge algo
incrível de se considerar que consiste no seguinte, quando o corpo esta por
encerrar o período REM (a ultima fase) e volta ao inicio do ciclo na primeira
fase que é chamada de “transição da vigília para o sono” , é nesse momento que
acontece a tão famigerada paralisia do sono, onde temos a sensação de estar
acordados mas sem domínio motor do próprio corpo, e não é incomum nesses
momentos o dormente ter certeza de que esta acordado a ponto de identificar os
objetos ao seu redor e ver e ouvir as pessoas que por ali estejam, e em casos
mais extremos e aterrorizantes, se tem a
clara sensação de presenças obscuras, sons ininteligíveis, odores estranhos ou
fétidos entre outras coisas assombrosas. Mas e qual a relação de tudo com isso
com os valores espirituais que a Igreja precisa observar? Ora, mas não é
justamente isso que temos visto em nossos templos? Crentes que por razões
diversas se estagnaram, deixaram de ser produtivos e não se multiplicaram mais,
e que ao invés de saírem do ostracismo espiritual conformaram-se com uma vida
de aparências. Pessoas que tem aparência de piedade mas que negam a eficácia da
mesma como diz o texto bíblico em II Timóteo 3:5. O texto de Mateus 25: 1 a 13
apresenta uma parábola que durante muito tempo tem sido alvo de uma exegese
equivocada, uma vez que a maioria dos exegetas querem “interpretar” os
elementos ali presentes e por conta disso acabam por alegorizar os
significados, o que termina por conduzi-los a perder o foco principal
apresentado por Jesus na referida parábola. Não é importante para nós neste
estudo encontrar caminhos hermenêuticos para identificar quem as virgens
tipificam, uma vez vez que não podem representar a Igreja pelo fato do tipo da
Igreja ser a noiva e jamais o cortejo, outro detalhe é que o óleo não foi
compartilhado pelas prudentes com as insensatas é isso parece ir na contramão
do propósito do evangelho da graça, entre outros detalhes, como por exemplo o
óleo ser vendido por alguém que não fazia parte nem do cortejo nem da festa das
bodas e isso também não está de acordo com o papel do Espírito Santo na
dispensação da graça, o qual não pode jamais ser negociado de nenhuma forma;
lembremo-nos aqui da oferta de Simão o mágico quando pensou que a unção de Deus
poderia ser mercadejada e como isso lhe resultou em uma grave repreensão por
parte do Apóstolo Pedro.
Deixando
então todas estas questões hermenêuticas e exegéticas de lado voltemos ao ponto
principal da parábola, prudência, insensatez e vigilância. Iniciemos
então com a palavra prudência registrada nos originais gregos como (φρονιμος
phronimos), que na língua grega significa, inteligente, sábio, atento aos próprios
interesses, prudente. Uma pessoa prudente não negligencia seus próprios
interesses visto que isto redunda sempre em fracasso absoluto. Mas se o
conceito é tão simples, porque então tantas e tantas pessoas se tornam
cataplexicas espirituais se permitindo a
imprudência e deixando de lado de atender as necessidades de suas próprias
almas no que tange a vida eterna? Quando olhamos para a parábola vemos que as
virgens que são classificadas como insensatas, desde o inicio não se
preocuparam em ter um requisito importante, o óleo como combustível para manter
as lâmpadas acesas, ou seja, desde que saíram para o compromisso que tinham, falharam em se prover do que elas mesmas
necessitavam, acreditando no sucesso do improviso, e diga-se de passagem no que
tange aos valores espirituais improvisar não dá bons resultados, é melhor ser
apto em manejar bem a palavra da verdade em todo tempo e em todas as
circunstâncias. A prudência é uma necessidade tão vital que Jesus a recomendou
aos discípulos fazendo uso de uma expressão totalmente surpreendente quando
diz: “sejam simples como as pombas e prudentes como as serpentes” (Mt 10:16).
Talvez a principal característica da cataplexia narcolepsica seja fazer com que
subitamente o individuo não possa atender as necessidades mais vitais para a
manutenção de sua própria vida, pois quando sofre um ataque durante o dia,
esteja fazendo o que estiver, a pessoa perde os sentidos caindo em sono
profundo tendo todos seus músculos paralisados pelo cérebro e assim se expondo
a perigos imediatos. Imprudência no que diz respeito aos parâmetros bíblicos
para a salvação significa absoluta perca dos sentidos, espiritualmente falando,
porque uma eternidade toda separado de Deus é um preço alto demais para que
alguém pague por viver dissolutamente sem atentar para a vontade de Deus.
Condenar-se a si mesmo a ser mais um nome para a segunda morte não me parece
jamais ser uma boa idéia . Vamos então a próxima palavra abordada no texto em
questão que é a insensatez. No texto grego o escritor Mateus usou a a
palavra (μωρος moros), que significa néscio,
tolo, ímpio, incrédulo. Recordo das palavras de Jesus a Tomé em João 20:27: “não
sejas incrédulo mas crente”, e ainda um outro texto registrado em Romanos
14:22 “bem aventurado aquele que não se reprova naquilo que aprova”. O
que me chama a atenção é que nestes ultimas dias da igreja na terra o que temos
visto é que a fé pura e eficaz recomendada pela bíblia está sendo substituída
por uma incredulidade absurda disfarçada de credulidade culta. O que quero
dizer com isso? Veja novamente a parábola das 10 virgens; cinco delas ao saírem para o compromisso que
poderia durar horas ou dias, ainda que não soubessem como seria, saíram
despreparadas “crendo” que tudo daria certo, que o óleo combustível nas
lâmpadas era suficiente, que poderiam emprestar de alguém, e assim por diante.
Contudo, justamente essa incredulidade na necessidade de ser prudente fez com
que elas cressem que poderiam resolver caso algo desse errado. Temos
vivido um tempo em que por conta da grande sonolência espiritual que se abateu
sobre nós, muitos dentro de nossos templos já não possuem temor, não se
santificam, não vivem o que pregam, não praticam justiça, não são hábeis no
ágape divino, etc, por não acreditarem
mais nos limites antigos, os quais a bíblia nos recomenda a não remover, por
acreditarem por outro lado que estão no controle da situação, que tudo dará
certo no fim das contas, mas assim como alguém que sofre de narcolepsia, tais
cristãos estão em perigo pois seus corpos espirituais estão em queda livre por
conta da cataplexia espiritual. Alguém que sofre medicinalmente deste mal
precisa de acompanhamento médico, mas com respeito aos enfermos espirituais o
que se precisa é clamar a Deus confessando sua condição miserável e contar com
a cura divina que prontamente vem para o que se humilha diante de Deus e se
propõe a estar desperto diante das verdades salvíficas reveladas nas páginas da
bíblia sagrada. A última palavra que quero considerar nesta meditação é “vigiai”. No texto bíblico de Mateus
25 a palavra original é (γρηγορεω gregoreuo), que significa,
assistir, dar estrita atenção a, ser cauteloso, ativo, tomar cuidado para que ,
por causa da negligência e indolência, nenhuma calamidade destrutiva
repentinamente surpreenda alguém. Caro aluno, observe bem, que o texto bíblico que estamos
estudando neste ultimo capitulo, diz que todas as virgens tosquenejaram,
ou seja, cochilaram, e todas elas adormeceram e ao ouvir a voz do noivo todas
despertaram e prepararam as suas lâmpadas, que neste contexto quer dizer
ornamentar. Contudo, apenas as cinco prudentes foram vigilantes a ponto de
carregar peso extra levando além das lâmpadas, uma outra vasilha com óleo de
reserva. A vigilância em ser prudente fez com que elas carregassem algo a mais
para sua segurança e sucesso enquanto que a insensatez fez com que as outras carregassem
menos peso e por conseguinte menos recursos. Interessante relembrar que a
palavra grega para dormir no texto de Efésios 5:14, significa também “estar
indiferente à própria salvação”, as néscias foram indiferentes às suas próprias
necessidades. Outro detalhe é que alguém paralisado pelo sono da morte
espiritual acostumar-se-á com a companhia de “nekros”, que são aqueles
que estão destituídos de vida, mortos, cadáveres. Indo um pouco mais além quando
olhamos para a tipologia bíblica vemos os coatitas filhos de Levi, com a
responsabilidade de carregar os utensílios do tabernáculo sobre os ombros, o
que não poderia ser revogado sob nenhuma hipótese e quando isso aconteceu nós
podemos conferir o resultado no texto de II Samuel 6:3 a 7 com a rotura que
Deus abriu no incauto Uzá. Nos nossos dias muito do que deveria estar sobre os
ombros está sobre carroças, conduzidas por pessoas bem intencionadas, mas que
não foram designadas por Deus para a realização do trabalho. Quem dorme não
quer peso nenhum sobre si, apenas o conforto do sono. Isso quer dizer que
responsabilidades por amor, santidade, fidelidade, gratidão, perdão,
reconciliação, evangelização, obediência, moralidade cristã e outros, são pesos
insuportáveis a alguns, contudo, a voz do noivo se faz ouvir e o peso a menos
em nossas ferramentas redundarão em vergonha e alienação total. Como já disse
antes, a eternidade é muito tempo para se passar sem rever a face de Deus.
Voltemos à vigilância, sejamos prudentes, pois afinal é hora de despertarmos do
sono.