Consideraremos
aqui alguns princípios básicos à luz da Bíblia Sagrada para considerar qual
seja, segundo alguns textos bíblicos, o que Deus deseja para a Igreja, os
cidadãos do reino eterno, no que tange ao comportamento Ético . É importante
considerarmos essa questão antes de prosseguirmos para que sejamos capazes de
discernir qual tem sido nosso posicionamento diante das metas propostas pela
vontade divina. Vamos então analisar o texto de Paulo aos Efésios no capítulo 5
versículos 26 e 27. Observe bem: “Para a santificar, purificando-a com a
lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.”
Gloriosa
endoxos - ενδοξος, ter em alta estima, alta reputação,
ilustre, honrável, (fig) livre de
pecados (VINE, 2004, p 675).
Moisés
o grande líder de Israel disse certa vez algo de altíssima relevância que ficou
registrado no texto bíblico: “vocês
devem obedecer os mandamentos de Deus e cumprir a cada um deles, pois desta
maneira os outros povos verão a sabedoria e o discernimento de vocês. Quando
eles ouvirem todos esses decretos, dirão: De fato esta grande nação é um povo
sábio e inteligente” Deuteronômio 4:6.
Quando
a igreja vive a palavra de Deus, não sendo apenas ouvinte mas praticante dos
ensinos bíblicos, conquista a admiração e o respeito da sociedade e isso
glorifica a Deus, porque através disso pessoas se aproximam de nós e assim
entram em contato com a mensagem da salvação. O respeito e a admiração vem não
por conchavos e articulações de qualquer espécie, mas repousa sobre a igreja
como uma benção advinda das próprias mãos de Deus, afinal a bíblia diz: “toda
boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das Luzes, em quem
não há mudança nem sombra de variação” conforme escreveu Tiago no capitulo 1
verso 17 de sua epístola.
Considerando
que os pilares da ética Cristã são absolutamente indispensáveis ao cumprimento
do papel evangelizador e de reconciliação atribuídos à igreja, começamos aqui a
mergulhar na revelação bíblica para o domínio e prática de princípios éticos
extraídos diretamente da sapiência divina e não em meros conceitos humanos. “É privilégio nosso, pelo ensino que transmitimos, mudar vidas
hoje imaturas e aparentemente insignificantes, e desenvolvê-las em caracteres
marcantes e notáveis” (PRICE,1980 p.18)
Sem mancha,
na língua grega o termo é spilos (σπιλος), mancha, falta, deformidade moral
(VINE, 2004, p 768).
A
mancha no antigo testamento poderia ser o sintoma da lepra no corpo humano. O
sacerdote deveria verificar e declarar, caso confirmado fosse a doença, que a
pessoa seria imunda, para o culto e também não poderia permanecer no meio da
congregação conforme registra o texto de Levitico 13 e 14. Uma simples e
discreta manchinha na pele poderia ser o indicio de que a enfermidade havia
tomado conta do corpo da vitima e caso o mal fosse confirmado deveria gerar no
portador da doença a alienação para não gerar contaminação e por fim uma
epidemia.
Hoje
estamos sob o ministério do sumo sacerdote Jesus Cristo e ele levou sobre si
todas as nossas enfermidades, sejam físicas ou espirituais, contudo, no que
tange ao pecado, a mancha ainda representa presença do mesmo no coração e na
mente do homem, o qual vai paulatinamente produzindo corrupção e deterioração
do corpo espiritual e até mesmo físico. É necessária a confissão e a oração em
intercessão para que haja cura. Neste ponto observemos três versículos
importantíssimos: Provérbios 28:13 “Tiago 5:16 “PI
João 1:9”.
Confissão
, oração de intercessão e definitiva mudança de mente (arrependimento) são
valores que devem ser retomados pela igreja dessa ultima hora.
Nem
ruga, que no idioma grego é ruthis (ρυτις) ruga, marca de expressão advinda do
avanço em idade, ou do uso indevido de substancias químicas de qualquer espécie
(VINE, 2004, p 958).
Existe
uma maravilhosa revelação neste texto uma vez que o envelhecimento é uma das
consequências do pecado, e neste ínterim, o que não podemos esquecer que o que
envelhece é o corpo físico, o corpo espiritual não envelhece jamais, antes deve
crescer até que se atinja a estatura da medida de Cristo, até que cheguemos ao
status de varão perfeito e assim permaneçamos eternamente. O pecado impede o
crescimento adequado do homem interior mantendo-o em processo de definhamento.
Mas
como podemos entender este contexto bíblico? Simples, considerando que qualquer
marca de expressão que surja na igreja será sinal mais do que claro que alguma
coisa esta errada entre os membros do corpo. Algo que temos que considerar
também neste estudo é que sempre devemos pensar exegeticamente em duas linhas,
a da coletividade que diz respeito a igreja como um corpo, e ao individuo que é
parte definida do corpo mas não perde sua individualidade.
A
santificação da igreja evita as marcas de expressão bem como o uso de
“substâncias químicas”, e a santificação é operada pelo Espírito Santo e a
ministração da Palavra que por sua vez é responsabilidade dos ministros a quem
Deus chama para a realização de tal obrigação.
Quando a palavra da verdade é manuseada com inteligência, não há ruga
que permaneça, e assim o individuo cresce eticamente uma vez que esta
progredindo teológica e espiritualmente. Considerando a segunda linha acima
citada vejamos o que diz a bíblia: "a alegria no coração do homem
aformoseia o rosto”. PROVÉRBIOS 15:13.
Corações tristes deixam rostos tristes e sendo assim basta lembrarmo-nos da
bíblia dizendo o seguinte: “chorai com os que choram”.
Nem coisa semelhante, que em grego é toioutos (
τοιουτος), dessa
espécie ou tipo, ou seja, qualquer coisa que comprometa a reputação, que gere o
pecado e que nos envelheça diante da fé deve ser evitada. Para comentar este
tópico vem ao meu coração algo que pessoalmente considero uma das verdades mais
surpreendentes da bíblia sagrada. Veja só: “tendo cuidado de que ninguém se
prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos
perturbe, e por ela muitos se contaminem” Hebreus 12:15. Vamos considerar o
seguinte, raiz é aquilo que fica sob a
terra, enterrado no profundo e que só pode brotar quando devidamente
alimentado.
O que
quero compartilhar aqui é que por causa do pecado original, a escolha do
primeiro Adão, todos nós temos a raiz plantada dentro da nossa velha natureza e
normalmente não precisa de muita coisa para que esse mal arraigado em nosso
velho eu brote e produza árvore má que de fruto mau.
Nosso
esforço enquanto crentes é em não deixar que nenhum tipo de estímulo alcance
tal raiz em nosso ser, e enquanto ministros da palavra, pregar com toda a
ousadia para que os brotos que começam a crescer sejam cortados novamente e
fiquem infrutíferos. A raiz não poderemos destruir porque faz parte de nossa
natureza decadente, contudo, podemos e devemos evitar os rebentos para que não
haja contaminação de muitos.
E por
falar em contaminar, a palavra grega usada no texto original para ser traduzida em nosso idioma como contaminar
é miaino que significa: tingir com
outra cor, colorir, poluir, sujar, contaminar, etc. Quando a raiz de amargura
depois de haver brotado já começa a contaminar, na verdade, existe uma mudança
nas cores espirituais e a bíblia nos recomenda no livro de Eclesiastes 9:8 que
em todo tempo sejam alvos nossos vestidos.
Mesmo
Jesus no trato com seus discípulos a fim de os transformar em apóstolos, homens
que propagariam a mensagem do evangelho, teve que lidar com as limitações da
natureza humana presentes de forma marcante em seus escolhidos. “O Mestre não só
teve que lidar com pessoas de caráter subdesenvolvido e de fortes impulsos, mas
também de acentuadas tendências para o pecado” (PRICE, 1980 p 20)
Santa,
que no bom grego bíblico é hagios (αγιος), algo muito santo, implica em uma
relação especial com Deus, que não deve ser violada (VINE, 2004, p 970).
O livro de Hebreus no capitulo 12 e verso 14
diz: “segui a paz com todos e a santificação (hagiasmos) sem a qual ninguém verá o Senhor”. É um processo
paulatino resultante de perseverança em obediência à Palavra de Deus e à voz do
Espírito Santo, os dois agentes que operam a santificação, tornando-nos
separados dos moldes mundanos concedendo assim a quem busca se santificar,
condições plenas para ser moldado conforme o desejo de Deus.
A
falta da santificação não nos impede praticar um cristianismo ainda que
superficial, contudo, nos impedirá definitivamente de ver a Deus, e ver ao criador, não se traduz apenas no direito transitório de contemplar
sua face uma vez em algum momento da história, mas sim o poder de estar diante
de dele por toda a eternidade. A santificação sendo operada pela palavra e pelo
Espírito Santo nos separa, não simplesmente afasta, mas separa dos paradigmas
mundanos, molda nossos costumes, nossas ações, e assim por diante.
Quem
se santifica deixa de ser o resultado da influencia do sistema e passa a ser um
influenciador dentro do sistema, deixa de ser um produto da cultura e se torna
um moldador de caráter, agente construtor dentro da cultura geral, isto porque,
a santificação nos aproxima de Deus enquanto nos distancia do mundo, e pessoas
que se aproximam de Deus tem muito a compartilhar com aqueles que estão ao seu
redor.
É
muito importante também considerar que a santificação é diferente da purificação
(resultado da obra salvífica), isso porque enquanto que a purificação nos limpa
dos pecados cometidos, a santificação nos separa daquilo que pode nos levar a
pecar, além do que , só pode ser iniciada após a purificação Efésios 5:26,
sendo portanto o que nos diferencia entre pecadores justificados e pecadores
sob condenação (praticantes).
Irrepreensível,
em grego é amemptos, ou seja, sem defeito, como um sacrifício sem mancha ou
defeito, moralmente irrepreensível (VINE,
2004, p 724).
Nesse
sentido e nesse texto especificamente o autor quer mostrar que o que Deus
espera da Igreja é que uma vez que foi purificada pela lavagem da água, pela
palavra (Efésios 5:26) e se mantém em permanente aperfeiçoamento através da
santificação, jamais se note em sua estrutura nenhum resquício daquilo que foi
removido pelo processo salvífico.
Quando
olhamos para Levitico 21, encontramos um texto com profundo valor tipológico ao
apresentar os requisitos exigidos pelo próprio Deus para que um descendente de
Arão pudesse ocupar uma posição no sacerdócio. Todos os detalhes ali
apresentados apontam para uma perfeição que só se encontraria de forma
definitiva seja física, moral e espiritual, em Jesus Cristo. Nenhum homem
durante a história do povo Hebreu alcançou a perfeição em todos os aspectos,
isso porque, ainda que não tivesse nenhum dos defeitos físicos ali
relacionados, não teria todas as qualidades morais que a ausência de tais
defeitos físicos tipificavam.
Mas
assim como para o sacerdócio não se admitiam defeitos físicos externos (pois
isso comprometeria o tipo de Cristo), para a Igreja não se admite qualquer
defeito que comprometa sua condição como noiva do cordeiro. Para se saber qual
seja nossa aparência espiritual, o espelho continua sendo a Palavra de Deus, a
qual é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração Hebreus 4:12.